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domingo, 27 de janeiro de 2008

Manual escrito em 64 a.C. ensinava candidato a ganhar voto.


Trata-se de um trecho do Manual do Candidato às Eleições, escrito em 64 a.C. em Roma, por Quinto Túlio Cícero. O autor preparou o manual (Commentariolus Petitionis, no original em latim) para seu irmão, Marco Túlio Cícero, ilustre orador e político que naquele ano se candidatava ao posto máximo da República romana: o de cônsul. O manual, embora curto, tinha conselhos valiosos para Cícero conseguir ser eleito.Fortalecer amizades já existentes e conquistar novas, cobrar favores prestados a quem pudesse ajudar na campanha, decorar o maior número de nomes possível, sorrir para todos, ser generoso, fazer promessas mesmo sabendo que não cumpriria todas, pedir votos na rua, estar sempre cercado de multidões, falar a língua do povo e tornar públicos os podres dos adversários.

Veja o artigo publicado no Jornal de Fato e escrito pelo professor da Ufersa Margley Machado Moura.

Maldito Manual!

Margley Machado Moura

"Maldito Manual!" dizem os homens de bem, porque, em verdade, esse documento é mais do que um "bendito manual" para os que aspiram à profissão de político (hoje é profissão, sim) e para os que já se encontram na carreira – com raríssimas exceções. Para essas pessoas, o Manual é um verdadeiro achado dos Céus.
Estou me referindo ao documento Comentariolus Petitionis – há muito traduzido para o português sob o título "Manual do Candidato às Eleições"–, escrito em 64 a.C., por Quinto Túlio Cícero, para ajudar a eleger o seu irmão, Marco Túlio Cícero, que concorreria, naquele ano, ao honroso e nobre cargo de cônsul da República, nas eleições do Império Romano, que, se eleito, seria um dos chefes de governo do maior império de todos os tempos – por cerca de 500 anos, os romanos dominaram o mundo.
O Manual é um documento de poucas páginas; apenas o suficiente para expor, com justificativa, "preciosidades" do tipo: o candidato a cargo eletivo deve sorrir para todo o mundo; usar de certa bajulação; prometer o que é e o que não é possível realizar; conhecer as pessoas pelo nome; jamais negar pedidos durante a campanha eleitoral; falar bem de si mesmo; às escondidas, intimidar os adversários para conseguir, com facilidade, aquilo que busca; constituir amizades de todos os tipos; não ter vergonha de nada e por aí vai. Um manual desses devia ter se chamar Manual da Malandragem dos sem Escrúpulo, ou, quem sabe, Manual dos sem Almas.
Pois bem, depois de pôr em prática as malandragens ensinadas pelo irmão escritor, Marco Túlio Cícero foi eleito e se tornou governante do maior império do mundo. Alguns dizem que, até aí, nada de mais. E a História reconhece nele uma qualidade: era um brilhante orador. Contudo, é oportuno perguntar: o que se pode esperar de uma pessoa com aguçada retórica e um documento desses nas mãos?
Isso não é tudo, não. O Manual ainda tinha outras pérolas, como, por exemplo: falar com convicção, pois, assim, ninguém desconfiará que você é quem é; pedir voto pessoalmente na rua e nos lares; fortalecer amizades antigas e conquistar novas; falar a linguagem do povão e tantos outros "conselhos" que os que se candidatam aos cargos políticos até hoje sabem de cor – picaretagem é o que mais se aprende!
Ao que parece, somente o diabólico prometer o que é e o que não é possível realizar é o mais observado e destacado pelos eleitores de hoje. Para tamanha sacagem, Quinto Túlio Cícero justificava afirmando: "a raiva que o eleitor terá, quando perceber que a promessa não será cumprida, é incerta, futura e se instala em bem poucos."
Não é difícil ver que as pessoas que não têm muita chance de se candidatar de imediato por certas siglas partidárias procurarem – como bons fingidores que o são– trabalhar como apresentadores nas emissoras de rádio e TV e/ou ocupar cargos de destaque no sindicato de sua categoria profissional. Até aí, também, nada de mais. Mas passou a ser um grande problema (e que problema!) a partir do momento em que essas pessoas começaram a praticar os conselhos de Quinto Túlio Cícero no âmbito da Universidade. Coincidência ou não, essa praga vem se verificando apenas nas universidades públicas dos países menos desenvolvidos, menos evoluídos politicamente. A Universidade é uma instituição milenar, que sempre se pautou considerando, acima de tudo, a competência. Não vamos vulgarizá-la agora. Isso é vexame, desmoralização. E tudo tem limites.

Fonte: www.defato.com


Alguns trechos do manual

Imagem é tudo - "Apesar de os dons naturais valerem muito, (...) um perfil bem forjado pode falar mais alto que a natureza."

Promessas - "Se você promete (o que o eleitor pede), essa raiva é incerta, futura e se instala em bem poucos. Mas se você nega, provoca irritação no ato e em muitos."

Rabo preso - "Não quero que você ostente isso (a corrupção dos adversários) diante deles de maneira a parecer que já planeja uma acusação, e sim que, pelo simples medo disso, você consiga com facilidade aquilo que busca."

Fonte: www.imagick.org.br

Tem muito político aí que segue direitinho essa "cartilha".

Forte aabraço e até logo.

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