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domingo, 30 de janeiro de 2011

Do Correio da Tarde

Comunidade quilombola do Jatobá comemora abastecimento


A Co­mu­ni­da­de Negra do Ja­to­bá, Mu­ni­cí­pio de Patu ainda co­me­mo­ra a con­clu­são do pro­je­to de abas­te­ci­men­to d´água na­que­la lo­ca­li­da­de.

O novo sis­te­ma ins­ta­la­do na co­mu­ni­da­de re­ce­beu o nome de "Mini-adutora João Luiz de Aqui­no". De acor­do com os mo­ra­do­res da co­mu­ni­da­de o pro­je­to foi fi­nan­cia­do pelo Pro­gra­ma de De­sen­vol­vi­men­to So­li­dá­rio PCPR II do Go­ver­no do Es­ta­do do Rio Gran­de do Norte. A im­plan­ta­ção do sis­te­ma cus­tou R$ 47.000,00 e está be­ne­fi­cian­do 25 fa­mí­lias que re­si­dem na co­mu­ni­da­de qui­lom­bo­la.

O Di­rei­to do aces­so a água é ga­ran­ti­do em nossa cons­ti­tui­ção, porém nem sem­pre isso é de fato e de di­rei­to con­ce­di­do. De forma es­pe­cial as fa­mí­lias cam­pe­si­nas so­frem muito mais pelo des­ca­so dos go­ver­nos e nor­mal­men­te ficam a mar­gem desse tão im­por­tan­te aces­so.

Para as fa­mí­lias da Co­mu­ni­da­de Negra do Ja­to­bá esse pro­je­to veio como uma so­lu­ção de­fi­ni­ti­va para um dos prin­ci­pais pro­ble­mas en­fren­ta­dos pela po­pu­la­ção local. Eles afir­mam que ao longo de toda a exis­tên­cia da co­mu­ni­da­de o aces­so a água era sem­pre feita atra­vés da uti­li­za­ção de car­ro­ças, ga­lões, e em mui­tos casos as mu­lhe­res eram res­pon­sá­veis pelo trans­por­te de água. Elas per­cor­riam até um qui­lô­me­tros uti­li­zan­do uma "ródia" para trans­por­tar uma lata d´água que tra­ziam na ca­be­ça.

Se­gun­do Go­re­te Silva, antes da che­ga­da da água atra­vés da mini-adutora, ela e ou­tras mu­lhe­res da co­mu­ni­da­de fazem o trans­por­te de água na ca­be­ça. "Antes eu ia pegar água com uma lata na ca­be­ça, hoje tenho água en­ca­na­da em minha casa, assim fico mais feliz e agra­de­ço a Deus por ter meu di­rei­to re­co­nhe­ci­do. Isso foi uma ben­ção de Deus", disse a qui­lom­bo­la se mos­tran­do feliz com a che­ga­da da águia atra­vés das tor­nei­ras.

O Pro­je­to foi ela­bo­ra­do e im­plan­ta­do atra­vés da as­ses­so­ria téc­ni­ca do Cen­tro Jua­zei­ro, se­gun­do o En­ge­nhei­ro Agrô­no­mo, Fa­brí­cio Edino, a mis­são da en­ti­da­de era de fa­ci­li­tar o aces­so a água para as fa­mí­lias do campo do semi-árido. O que foi atin­gi­do com a con­clu­são dessa obra.

Foi cons­truí­do um Poço Ama­zo­na, uma caixa d´água ele­va­da com ca­pa­ci­da­de de 20.000L e uma mini-adutora dis­tri­buin­do água para as 30 fa­mí­lias da co­mu­ni­da­de. O Cen­tro Jua­zei­ro tra­ba­lhou em par­ce­ria com o Sin­di­ca­to dos Tra­ba­lha­do­res Ru­rais de Patu (STR), Pre­fei­tu­ra Mu­ni­ci­pal, o Con­se­lho do FUMAC, o SEA­PAC e o FORUM Mu­ni­ci­pal das As­so­cia­ções.

Se­gun­do ele, nos úl­ti­mos anos, vem ocor­ren­do, em todo o Bra­sil, uma mo­bi­li­za­ção das co­mu­ni­da­des ne­gras ru­rais, que gra­da­ti­va­men­te vi­ven­ciam pro­ces­sos de re­to­ma­da de suas iden­ti­da­des qui­lom­bo­las, o que sig­ni­fi­ca se auto-afirmarem como grupo negro e rei­vin­di­ca­rem o per­ten­ci­men­to a um de­ter­mi­na­do ter­ri­tó­rio e o re­co­nhe­ci­men­to por seus di­rei­tos en­quan­to grupo ét­ni­co. Todo esse fe­nô­me­no de et­no­gê­ne­se deve-se, em parte, à ação po­lí­ti­ca do mo­vi­men­to negro e prin­ci­pal­men­te à pro­mul­ga­ção da cons­ti­tui­ção Fe­de­ral de 1988, que, em seu Ar­ti­go 68 do Ato das Dis­po­si­ções Cons­ti­tu­cio­nais Tran­si­tó­rias, apon­ta para a pos­si­bi­li­da­de de uma ação efe­ti­va de re­co­nhe­ci­men­to de di­rei­tos dos des­cen­den­tes de afri­ca­nos que foram tra­zi­dos à força para o Bra­sil, na con­di­ção de es­cra­vos, desde o pe­río­do da co­lo­ni­za­ção por­tu­gue­sa.

Matéria de Fabiano Souza

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